Há cinco anos, no dia 27 de janeiro, relembramos a tragédia que aconteceu na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Foram 242 mortos, centenas de famílias arrasadas com a perda de amigos e entes queridos, dias intensos de reconhecimento de corpos, velórios, enterros e muita, muita dor. O sentimento é unânime, mesmo para quem não estava lá e não viu de perto as cenas de sofrimento: compaixão. O mundo inteiro soube do que aconteceu na pequena cidade do Sul do Brasil através dos olhos da imprensa. Olhos cuidadosos, que buscaram mostrar da forma mais humana possível tudo o que acontecia ali, tão de perto para cada um deles. Por trás das câmeras, dos microfones e dos computadores não está apenas um jornalista. É um ser humano, uma pessoa de carne e osso, um coração pulsante. São os olhos e as palavras de quem tem a responsabilidade de contar o que está vendo de uma forma verdadeira. De tentar trazer o sentimento para cada linha, de transformar em matéria jornalística um acontecimento tão chocante. E esta é talvez uma das tarefas mais difíceis da profissão: estar firme para relatar aquilo que mexe com todos. Ainda lemos e ouvimos histórias das famílias, de como estão lidando com a perda anos depois. Também nos informamos sobre como está a parte burocrática da tragédia, o que estão fazendo para conseguir justiça. Mas e os jornalistas que estavam lá? Aqueles que chegaram no momento de toda a tensão e viveram junto a agonia de não poder fazer nada para voltar no tempo e evitar tantas mortes? Nós fomos atrás deles, para ouvir como foi contar uma história tão triste, que envolvia tantos sentimentos empilhados. Histórias que faziam engasgar ou nem mesmo segurar o choro em um programa ao vivo. Há cinco anos, Ananda Müller era repórter da – então recentemente aberta – Rádio Gaúcha em Santa Maria. À meia-noite ela encerrou a transmissão da escolha da rainha do carnaval no mesmo centro desportivo onde, horas depois, seriam depositadas centenas de corpos. Ananda foi a primeira a chegar ao local da tragédia e entrou ao vivo para toda a rede da emissora às 5h, enquanto todos ainda tentavam entender o que estava acontecendo. E dali para a frente as notícias seriam cada vez piores. Ela fala de um dos momentos mais críticos da cobertura e do impacto daquele episódio em sua vida e sua carreira. Nilson Vargas é editor-chefe do jornal Zero Hora e estava visitando a família em Santa Maria. Naquela madrugada, recebeu a ligação de um colega da redação, comentando de um incêndio. Desligou o telefone, abriu a janela do quarto e viu muita fumaça no céu. Foi a pé até a boate, mas não tinha ideia da dimensão do que estava presenciando. Luiz Norberto Roese morou 10 anos em Santa Maria. Na época da tragédia, trabalhava em um jornal local e morava perto da boate Kiss. Chegou no local com a certeza de que seria apenas mais uma cobertura de algum acidente, com, no máximo meia dúzia de vítimas. Só acreditou no que estava vivendo quando viu a foto no celular de um dos bombeiros que trabalhava no resgate: centenas de corpos empilhados nos banheiros da boate. Lauro Alves é fotógrafo do jornal Zero Hora e na véspera da tragédia havia feito algo bem parecido com as vítimas: encontrou amigos e foi a um bar, mas em Porto Alegre. Ele foi a primeira pessoa lembrada pelos colegas de redação naquele dia porque, nascido em Santiago, com cinco anos mudou-se com a família para Santa Maria. No entanto, o sono embalado pelo cansaço da empreitada noturna impediu que Lauro atendesse uma das primeiras 70 chamadas. Só depois de muita insistência a ligação foi completada e a notícia, segundo ele, foi como arrancar o sono de seu corpo com a mão. Àquela altura, mal sabia o fotógrafo que chamadas não atendidas seriam também a lembrança mais marcante do momento em que chegou ao Centro Desportivo Municipal de Santa Maria: centenas de telefones tocavam em vão junto aos corpos, enquanto pais esperançosos esperavam ouvir a voz dos filhos. Entre tantas imagens de tristeza, Lauro foi o autor da foto mais emblemática da dor daqueles que lamentam até hoje a perda – o retrato seria a capa do jornal Zero Hora no dia seguinte. Marilice Daronco é de Santa Maria e foi direto para o Centro Desportivo Municipal, o Farrezão. Descobriu, mais tarde, que absolutamente todas as pessoas com quem conversou tinham perdido pelo menos um familiar. Viu nos olhos de um pai a tristeza tomando conta ao receber a notícia, e presenciou a cena de um jovem contando esperançoso que havia conseguido levar a irmã a tempo para o hospital para, minutos depois, cair de joelhos e ouvir no telefone que ela não resistiu. O assessor de comunicação do Hospital de Caridade Doutor Astrogildo de Azevedo, de Santa Maria, Claudemir Pereira, lembra de ter sido avisado às 4 e meia da madrugada e logo correr para o local. Apesar de guardar muitas memórias daquele dia, algumas lembranças ficaram perdidas no tempo, e ele não faz questão de se reencontrar com elas. Claudemir conversou com nossa equipe e falou sobre o contato com os colegas da imprensa e a árdua tarefa de ler a lista de internados diante dos jornalistas e dos familiares das vítimas. O olhar do jornalista é ao mesmo tempo técnico e humano. Passados cinco anos, e por quantos mais for necessário, cabe à imprensa a tarefa de não deixar que as 242 vidas tenham sido perdidas em vão.
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Milhas pela Democracia: baianos doam milhas aéreas para quem veio apoiar Lula em Porto Alegre23/1/2018 Militantes de todo o Brasil favoráveis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mobilizaram para estar em Porto Alegre no dia 24 de janeiro e acompanhar de perto o julgamento do petista. É o caso da baiana Nana de Carvalho: ela veio acompanhada de cerca de 50 pessoas e contou com a ajuda de apoiadores e governantes de sua cidade para vivenciar um dia histórico para a política brasileira. Por meio de uma campanha chamada “Milhas pela Democracia”, os manifestantes conseguiram doações para comprar passagens de avião mais baratas. Além disso, desde o dia 15 de dezembro, foram organizadas diversas ações como festas, jantares, rifas e vendas de camisetas para arrecadar fundos. O julgamento de Lula está marcado para as 8h30min desta quarta-feira.Ele foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no valor de R$ 2,2 milhões, correspondentes a um triplex no Guarujá, em São Paulo, pago pela construtora OAS. O recurso apresentado pela defesa de Lula será apreciado pela 8ª turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), composta pelos desembargadores Gebran Neto, que é o relator, Leandro Paulsen e Victor dos Santos Laus.
![]() Já virou chavão se referir a 2018 como o ano da eleição da internet. Nada de errado nisso, convenhamos, pois o crescimento de importância das redes sociais e demais plataformas digitais traz todos os indicativos de fenômeno irreversível. Eleição sem internet é como carro sem pneus: não há como sair do lugar, por mais que todo o resto esteja bem. Mas vai uma boa distância entre reconhecer a importância do digital nas campanhas e saber usá-la bem. Mais ainda agora, com o recente anúncio de mudanças no algoritmo do Facebook com o intuito de privilegiar a divulgação, na timeline, de posts do círculo de amigos em detrimento dos conteúdos de páginas, qualquer página - de times esportivos, empresas, jornais, artistas, políticos. O “NOVO” FACEBOOK Explicamos os objetivos do Facebook neste link: tentar conter a disseminação de notícias falsas (fakenews) e faturar mais com anúncios, não necessariamente nesta mesma ordem. Motivações à parte, fato é que a alteração do algoritmo obriga a todos que lidam com páginas de Facebook a rever estratégias. No caso específico da política, afetará de maneira mais drástica quem ainda engatinha no universo on-line, com presença digital restrita a um perfil “pessoa física”, com limite de 5 mil amigos, ou uma página com poucas mil curtidas. Quem já tem fanpage com um número mais expressivo de seguidores - 50 mil, por exemplo - terá chances de construir ou manter uma comunicação efetiva com o público, por meio de conteúdo orgânico com alto potencial de engajamento. Vale lembrar: postagens patrocinadas são proibidas em período de campanha, por força da legislação eleitoral. COMO CONSTRUIR O PÚBLICO É isso que torna a vida dos iniciantes nas redes sociais mais complicada, já que a construção de uma base de seguidores não se dá mais apenas com conteúdo orgânico; é preciso investir em anúncios, até por uma questão de refinamento de público conforme preferências pessoais e afinidades - ser assertivo neste ponto é a chave para o sucesso, o popular “falar para a pessoa certa, a coisa certa, na hora certa”. E pouco adianta lembrar que existe um perfil pessoal do político já com os 5 mil amigos, talvez dois ou três perfis assim - algo como Fulano 1 lotado, Fulano 2 lotado. O argumento de que as interações nesses meios ganhará alcance é válido, mas perde força diante da qualificação do público - um universo restrito, possivelmente composto por quem já é eleitor do político. Por que produzir conteúdo para quem já se tem o voto? A campanha precisa expandir os horizontes e atingir novas pessoas. 7 BOAS SAÍDAS PARA A CAMPANHA DIGITAL Ou seja, a campanha de 2018 na internet representa uma equação de difícil resolução, mas não impossível. Aqui vão 7 boas soluções: 1 - Planejamento de conteúdo; 2 - Construção de público dentro do período permitido pela legislação; 3 - Produção de conteúdo qualificado, com alto potencial de engajamento (leia-se compartilhamento); 4 - Aposta nos vídeos com formato internet: curtos, com possibilidade de gravação no celular, sem pirotecnia; 5 - Vídeos ao vivo; 6 - E, sim, outras plataformas, quando houver fôlego e estrutura: stories do Instagram, newsletters, site com a plataforma de propostas… 7 - WhatsApp: mobilizar uma rede orgânica para compartilhamento de conteúdos. É como campanha à moda antiga, mas na tela do telefone. Bônus: Planejamento, planejamento e mais planejamento. Comunicação, com resultado, se faz com muito planejamento e estratégia. Ou o candidato verá seu dinheiro ir embora pela janela e sua vitória nas urnas ficar para a próxima.
Pois o Facebook mais uma vez anunciou mudanças que, adivinhem, vão alterar como vemos o feed de notícias.
No comunicado desta quinta, a companhia do tio Mark Zuckerberg basicamente disse que priorizará em seu algoritmo a visualização de posts de amigos, membros familiares e de grupos, em um movimento com reflexos imediatos na redução de alcance das publicações de empresas e de veículos de comunicação. E aí está o caroço da questão, como falam os mais antigos: à primeira vista, parece apenas um movimento do Facebook em direção de “bem-estar”, palavra utilizada pela companhia - e a declaração da chefe de pesquisas de Feed de Notícias, Laureen Scissors, traz mesmo esse indicativo: “Apenas rolar o feed, lendo passivamente ou observando sem interações, tende a fazer as pessoas se sentirem pior”, afirmou, ao justificar a intenção de destacar a visibilidade das conexões entre pessoas da mesma rede, principalmente se curtirem, comentarem ou compartilharem conteúdos. O raciocínio de Laureen e a explicação sobre as mudanças constam em um vídeo divulgado pelo próprio Facebook. Mas vale considerar, também, o que não foi dito no material de 1 minuto e 51 segundos. Basicamente, dois pontos: 1 - Esse movimento afetará diretamente companhias que apostam na rede e em suas interações para obter relevância e engajamento junto ao público. Vale para jornais, fabricantes de veículos, parque de diversões - basta escolher o nicho corporativo. Nesse cenário, a saída para manter a relevância está em apostar cada vez mais nos anúncios, um caminho inegavelmente lucrativo ao Facebook. E, também, em gerar conteúdos capazes de gerar interações entre os seguidores. Convenhamos, isso já faz parte das práticas de qualquer social media que se preze. 2 - Após a eleição de Trump nos Estados Unidos, a reputação do Facebook sofreu arranhões devido à proliferação das fake news. Virou regra geral considerar que as notícias falsas influenciaram a corrida eleitoral - ainda que o quadro parece não ter sido tão ruim assim, como aponta um estudo da Universidade Dartmouth. Ou seja: em tese, o Facebook parece caminhar na direção de frear a disseminação de conteúdos de notícias (sejam reais ou falsas). Avançando na divagação, seria como reduzir a quantidade de links disponíveis para mitigar o compartilhamento pelas pessoas. Para Zuckerberg, a expectativa com as mudanças é que “o tempo gasto por você no Facebook seja mais valioso”. Trata-se de um argumento válido, conforme a opinião da sócia e Diretora de Conteúdo da Padrinho, Alexandra Zanela: “Do ponto de vista de pessoa física, essa mudança é interessante para as relações, porque passamos a usar o Facebook mais para se relacionar com as pessoas. Do ponto de vista de produtores de conteúdo, torna a nossa vida mais complicada. Ok, mas temos um veredicto? “Ao final, é positivo porque qualifica o conteúdo entregue na ponta”, complementa Alexandra. Como a mudança de algoritmo sequer entrou em vigor e ocorrerá gradativamente, resta conferir o desenrolar. Nada impossível de se observar, afinal, estamos praticamente conectados na rede do Mark. |
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Novembro 2022
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