Quem é artista vai entender: a gente batalha para saber tocar um instrumento, investe em aulas, material, equipamento, junta os amigos, marca estúdio de ensaio e tenta manter uma rotina prática para não enferrujar. Indo muito além de estar atrás de um instrumento, o artista está sempre atrás de grandes oportunidades.
São incontáveis os shows sem cachê ou ajuda de custo que as bandas topam fazer apenas pelo reconhecimento. E arrisco dizer que, muitas vezes, o simples prazer de estar em cima de um palco já vale ouro. Mas e do lado do público, como a cena é vista? O meme de expectativa x realidade aqui seria bem claro: enquanto a cena local está explodindo de talentos e grandes músicos, o público não conhece tantos, e talvez por duas questões principais: o artista não tem espaço e oportunidade para shows, ou o público não vai assistir por falta de interesse e/ou divulgação. É difícil conciliar tanta contradição. Se temos tanta gente boa para mostrar o trabalho lindo que fazem, onde estão os espaços para isso? E mais: onde está o público? A bandeira de valorização da cena local deve ser levantada diariamente, por menor que seja o gesto. Organizou um evento de rua? Apoia um artista. Vai ver um amigo tocar? Paga o couvert e não pede nome na lista para ganhar desconto. O dinheiro que você economiza deixando de apoiar alguém pode acabar indo para um produto de uma marca que não apoia a música. Já pensou nisso? Estar presente é um grande apoio, chamar os amigos para conhecer novas músicas, mais ainda. Mas precisamos entender que tem muita gente que vive de arte, que arrisca todos os dias e pula os obstáculos que esta cena tão diminuída no Brasil nos mostra. Então, neste dia do rock, não vamos comemorar: vamos agradecer. Saudar os artistas que batalham tanto para o nosso entretenimento, que dão o sangue para estar em cima do palco passando aquela energia boa para quem assiste. O plano é, sim, deixar aquele gostinho de quero mais e aquela pulguinha atrás da orelha que sopra: por que diabos a gente não faz isso mais vezes? E para não dizer que não ajudamos, aqui vão alguns links de bandas de algumas capitais brasileiras que você pode começar a acompanhar o trabalho. Tem mais sugestões? Manda que a gente atualiza! Curitiba Estrela Leminski e Teo Ruiz Rio de Janeiro Canto cego Goiânia Cherry Devil Brasília A Engrenagem São Paulo Rakta Belo Horizonte Cartoon Porto Alegre Erick Endres Apoie a cena. Conheça os seus artistas! VIVA a música!
0 Comentários
![]() Por Homero Pivotto Jr., jornalista, pai do Benjamin, vocalista de banda ruim e comanda o projeto "O Ben para todo Mal." “O rock é minha religião”, dizem alguns. Quem nunca ouviu isso daquele rockista ‘abençoado’, pronto pra ungir incautos com verdades incontestáveis sobre o gênero? O problema é que esse dogmatismo que beira o sacro tende a afastar novas ovelhas do rebanho. Porque né, quando se é jovem, a gente não quer que nos digam o que e como fazer as coisas. E o rock — ao menos pra mim — foi meio que a personificação da rebeldia, de não aceitar o que dizem ser assim ou assado, de contestar, de questionar. Ele conseguiu se conectar comigo, mostrar que havia possibilidades (algo que, em determinadas fases da vida, os coroas não conseguem). Só que, atualmente, o estilo parece ter se tornado o tiozão do Led (nada contra a banda, ressalte-se) que adora pregar como o passado foi glorioso e o presente é apocalíptico para esse tipo de som. É uma cobrança carola de regras e posturas que até parece embasada por algum livro sagrado. Mas se o rock é libertador (para este pai de família que vos escreve foi o que ele significou), porque tanta doutrina? O mundo mudou, as pessoas não são as mesmas de ontem, os tempos são outros e o contexto da porra toda se modifica mais rápido que uma audição de ‘You Suffer’ do Napalm Death. Esse conservadorismo não tem sentido e afasta a possibilidade de identificação que fideliza um amante do gênero desde a adolescência. O rock, assim como as divindades que regem crenças de quem frequenta igrejas, não morre. Há ciclos em que tá na graça do povo, e outros em que amarga um inferno astral. Isso é normal. Perigo mesmo é a interpretação que parcela considerável de seus seguidores fazem daquilo que ele representa. Isso tem o tornado, cada vez mais, um ser superior inacessível. As novas gerações não gostam dessa cagação de lei e não se sentem cativadas. Sim, é possível ser roqueiro e gostar de outras sonoridades. Esse lance xiita de que é preciso um monoteísmo musical para ser trOO é um mau espírito que acompanha o rock. E, veja bem irmão: já fui desses que intima galera mais nova com camisa de banda pra ver se são dignos de vestir tal manto. Mas eu tô me regenerando. Ainda me incomoda um pouco ver gente com peita do Ramones sem conhecer os fast four, mas trabalho com fé pra superar isso. Esses comportamentos de medir o grau de rockismo do outro são trouxas e geram antipatia. Vá de retro! Com o mundo na ponta dos dedos, porque, em nome de g-zus, a criatura precisa ser devota apenas ao rock? Ela pode apreciar outros sonoridades sim! Se o deus do rock tá vendo não interessa. A eucaristia roquística deve acolher a todos os quiserem partilhar dela, mesmo que a comunhão ocorra sem tanta frequência. A bolha das redes sociais já é suficiente para que vivamos ensimesmados em uma espécie de seita que reza a cartilha das afinidades e condena as diferenças. A arte, e o gosto por ela, deve ser livre. No primeiro episódio d’O Ben par todo mal, o Jão (guitarrista do Ratos de Porão) diz que os pais têm mesmo de catequizar as crias para que o rock se perpetue. Até pode ser. Mas é preciso cuidado pra que essa evangelização seja sutil, e não colocada como obrigação. Mostrar para a gurizadinha as virtudes do gênero pode ser um caminho. Fazer com que eles percebam que aquilo é importante para determinado grupo, incluindo os progenitores, é um começo. Apontar como há lições que podem ser tomadas naquela locuragem sonora também é um bom mandamento pra se ter me mente. Quem nunca aprendeu inglês traduzindo temas que gosta? E geografia, analisando a origem das bandas (galera do punk/hc da costa leste e da oeste dos EUA, por exemplo)? Aulinhas de história com o Iron Maiden ou de acontecimentos recentes do Brasil com o Ratos de Porão também podem constar no currículo. Tenho pouco embasamento teórico sobre o que acabei de relatar. Trata-se mais de uma reflexão empírica, da percepção de que o rock perdeu espaço na mídia e no interesse da turma mais nova. Até catei na internet alguma pesquisa, mas não encontrei nada além de relatórios sobre consumo digital X analógico de formatos para se ouvir música. Na real, tem uma análise de 2017 da Nielsen Music que corrobora com o que escrevi. Segundo esse material, o R&B/Hip-Hop ficou à frente do rock na preferência dos estadunidenses pela primeira vez na história: 24,5% contra 20.8% em relação ao consumo total de música. Tá, é outro país. Contudo, se importarmos a métrica para o território nacional, talvez só seja necessário trocar R&B/Hip-Hop por algum outro estilo em evidência aqui na terra do Carnaval. Outro apontamento que chamou atenção está num artigo publicado no site Tenho Mais Discos que Amigos. Diz o seguinte: “Se todos já se contentassem apenas com Chuck Berry e Elvis, os Beatles não teriam surgido, nem o Sabbath, ou os Stones ou tudo que veio depois!”. É isso: é preciso estar aberto ao novo, disposto a entender que o momento em que vivemos está tendo tantos desdobramentos quanto o metal ganha novos subgêneros. O culto tem de ser aberto para praticantes e curiosos. O rock do passado, por mais atemporal que seja, foi criado lá atrás, inspirado em situações e vivências que talvez não conversem tão bem com quem vive conectado ao mundo de hoje e à infinidade de informações que isso possibilita. Incluindo um acervo discográfico online que, outrora, até pareceria um milagre obra divina. É duro aceitar isso, mas é verdade que o rock — os fãs, melhor colocando — tem de estabelecer um diálogo com as novas gerações. Do contrário falhamos miseravelmente. E, aí sim, é bem provável que tenhamos de operar um milagre para que destino do estilo não seja o esquecimento. Ou mesmo a vala cultural. ![]() Uma parceria entre a Padrinho e o Filto Fact-checking coloca no ar, a partir de hoje, uma série de materiais em áudio sobre Fake News. O conteúdo produzido será distribuído, gratuitamente, para as rádios do Rio Grande do Sul. A ideia do especial surgiu de um papo sobre Fake News entre o time da Padrinho e a jornalista, Doutoranda em Comunicação e Co-fundadora do Filtro Fact-checking, Taís Seibt. Percebeu-se, rapidamente, que estamos olhando muito para o assunto a partir do que nós, jornalistas e comunicadores, temos de conhecimento sobre notícias. Rapidamente surgiram exemplos de como as nossas próprias famílias têm dificuldade em entender - e não repassar, especialmente nos famigerados grupos de zapzap (whatsapp) - notícias falsas. - Precisamos explicar para a 'dona Maria' o que é fake news antes de exigirmos que as pessoas não passem conteúdo fraudulento adiante - argumentou Alexandra Zanela, da Padrinho. - É o que eu sempre digo! A minha mãe se chama Maria e uso esse exemplo sempre que falo sobre isso - complementou Taís, que comanda o Filtro e tem promovido encontros sobre checagem com jornalistas. O primeiro foi aqui na Padrinho e o próximo rola no dia 31 de julho, na Ari. ::: Acompanhe a série sobre Fake News ::: Inscreva-se para a próxima checagem. Confira o primeiro episódio do especial sobre Fake News: um guia para não cair nessa. ![]()
Para a minha mãe (e a sua também) entender o que é fake news
Em mais de uma década de reportagem, já ouvi muito editor dizer que é preciso escrever sobre como tal assunto impacta na vida da “Dona Maria”. O que nem todos eles sabiam é que, no meu caso, Dona Maria é ninguém menos do que minha mãe. E minha mãe anda com as orelhas quentes ultimamente de tanto que eu a tenho usado como exemplo em entrevistas, aulas e palestras. É porque minha mãe, Dona Maria, é o exemplar mais próximo de mim do que eu chamo de “usuário padrão” de internet no Brasil. Dona Maria é uma senhora de 60 e poucos anos, que concluiu o ensino básico numa cidadezinha do interior, cresceu na roça e teve que aprender a se virar na cidade. Até 20 e poucos anos atrás, Dona Maria não tinha nem telefone fixo em casa - usava o da vizinha. Ela nunca manuseou um computador e, para selecionar uma faixa no DVD, ela pede ajuda ao neto de quatro anos. Mas Dona Maria tem Whatsapp e está no Facebook. Dona Maria conectou-se às redes sociais graças aos planos pré-pagos de telefonia celular, como a maioria dos brasileiros com acesso à internet. Entreguei o smartphone a ela com os perfis criados e dei um workshop básico de como a coisa funcionava. O resto ela foi descobrindo. E aí é que está o ponto. A gente reclama daquele parente que compartilha de piadas de mau gosto a fake news no grupo da família, mas alguém já parou para explicar pro tio que existe internet fora do Whatsapp? Exemplo. Outro dia minha mãe me mostrou uma mensagem no Whatsapp com um textinho azul. Era um link, obviamente. Mas Dona Maria não sabia o que era um link e não tinha ideia do que aconteceria se ela clicasse no texto azul. Ela também não sabe entrar no Google e pesquisar um assunto. Dona Maria só aprendeu a acessar as mensagens do WhatsApp e percorrer a timeline do Facebook. Para ela, a internet é isso. Toda essa conversa de buscar fontes confiáveis não faz sentido para Dona Maria. No caso da minha mãe, a fonte confiável, muitas vezes, sou eu mesma. Pelo menos ela já aprendeu a desconfiar, mas o fato de perguntar para a filha jornalista se uma informação é verdadeira só mostra como é complicado para ela tirar as rodinhas da bicicleta e pedalar com segurança pelas ciclovias da informação digital. Só que fake news impactam, e muito, na vida da Dona Maria. Quantas donas Marias saíram desesperadas para o super uns dias atrás por causa de boatos sobre uma nova greve de caminhoneiros? A gente precisa achar um jeito – e um tempo – de explicar pra ela que não dá pra acreditar em tudo que dizem no zapzap. É isso que vou tentar fazer por aqui. Vou organizar umas ideias para ajudar minha mãe (e a sua também) a entender o que é fake news. E eu tenho convicção de que essas informações podem ajudar muitas Donas Marias por aí, porque a falta de compreensão sobre a vida digital não é exclusividade da geração dela, nem de uma classe social específica ou de um determinado nível de instrução formal. O letramento midiático é um debate necessário em todos os nossos grupos sociais. Até uma desembargadora foi traída por fake news no caso dos ataques à imagem da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio em março. Tem eleições vindo aí, e não vai faltar gente tentando confundir a nossa cabeça com informação falsa ou distorcida. Mas também não dá para entrar numas de que tudo é fake news e não se pode mais acreditar em nada hoje em dia. A verdade ainda importa. Só que ela não está na superfície. Precisamos ir mais fundo e ser mais cautelosos. Sem essa de “só” compartilhei. Na dúvida, não compartilha. E te liga nos próximos posts.
Entre as muitas manias que a cinefilia me deu está a de sempre trazer alguma lembrança cinematográfica das minhas viagens. Minha primeira ida à Buenos Aires (que eu espero que não seja a última) ficou marcada na minha memória não apenas pelo céu mais lindo que já vi na vida, mas por um DVD que comprei pelo motivo mais bobo que há: a capa. El Desierto Negro era um mistério para mim. Nunca tinha ouvido falar nada sobre o filme e só tinha como referência o nome de seu diretor, Gaspar Scheuer, que havia integrado a equipe de som de uma produção que gosto muito, Estamos Juntos, de Toni Venturi. Com a caixinha na mão e contando os minutos para descobrir que surpresas ela me reservava, voltei para o Rio Grande do Sul. E fui presenteada com um universo muito próximo ao meu.
El Desierto Negro se impõe pela forma. Sua fotografia, assinada Jorge Crespo e premiada no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (Bafici), toda em preto e branco, dá uma atmosfera totalmente improvável para o pampa argentino e para sua figura mais mítica: o gaucho. Associar o homem de chapéu e bombacha ao verde infinito dos campos é algo natural, assim como pensar neste herói de outros tempos como alguém valente e prestativo. Mas Scheuer imprime, com ajuda de tecnologia e ótimo elenco, um clima de cinema noir no seu pampa. Ao invés de um protagonista simpático, El Desierto Negro tem como condutor de sua história um homem marcado pela quietude e que, das poucas frases que diz, mais da metade é tem como verbo a ponta da faca. O ator Guillermo Angelelli interpreta o Irusta, personagem de uma Argentina histórica com poucos sorrisos e auxiliado pela lente da câmera que, assim como o espectador, parece desconfiar o bastante para não fixar os olhos por muito tempo nele. Impossível não lembrar do poema de José Hernández, O Gaucho Martin Fierro, uma das obras mais populares da Argentina e que colaborou e muito para o imaginário da figura do gaucho. Só que a ode ao herói do Rio da Prata aqui flerta com o cinema fantástico, em especial em seu prólogo. A eterna sombra que parece perseguir o protagonista soa como um poncho extra sobre as costas, feito de solidão e perdas. O gaucho de El Desierto Negro vaga como um fantasma e nem mesmo a perseguição dos soldados parece alterar seu estado de espírito. Calado, sem demonstrar medo ou valentia exacerbada, ele parece saber o seu destino desde o primeiro minuto em que surge em cena. A chegada na casa de Carmem, que espera a chegada do marido com tanta ansiedade quanto o filho, que poderia trazer algum aconchego para a alma atormentada do gaucho, é mais um teto que um lar para ele. Há uma sensação de que o roteiro poderia ter sido melhor desenvolvido ao chegarmos ao final de El Desierto Negro, mas não é nada que estrague a experiência sensorial que é assisti-lo. Ficamos impregnados por aquele universo em tons de cinza e por aqueles personagens sem muita esperança de futuro. Se olhar o pampa já mexe com o coração desta gaúcha, depois de El Desierto Negro, vai ser ainda mais emocionante. |
PAD - Produção Autoral do DindosO material deste blog é produzido pela equipe da Padrinho Agência de Conteúdo e colaboradores. Ele é de uso livre, desde que, obrigatoriamente, seja dado o correto crédito, com link. Histórico
Novembro 2022
Categorias
Tudo
|