![]() A Padrinho quer te desafiar! Que tal passar uma semana sem utilizar nenhuma das expressões e definições que separamos para vocês? Algumas são comumente usadas e trazem conotação racista, sim – seja na etimologia, seja no sentido original. Se você já utilizou alguma delas, mesmo que inconscientemente acabou replicando uma cultura discriminatória que continua impregnada em nossa sociedade. Nosso desafio é que você passe uma semana inteira sem usar essas expressões. Topa vir com a gente fazer um mundo melhor? “Cor da pele” Aprende-se desde criança que “cor da pele” é aquele lápis meio rosado, meio bege. Mas é evidente que o tom não representa a pele de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil. “Doméstica” Negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados”. “Estampa étnica” Estampa parece ser, no mundo da moda, apenas aquela criada pelo olhar eurocêntrico. Quando o desenho vem da África ou de outra parte do mundo considerada “exótica” segundo essa visão, torna-se “étnica”. “A dar com pau” Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca. “Meia tigela” Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre. “Mulata” Na língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade. “Cor do pecado” Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira. “Samba do crioulo doido” Título do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Porto (ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros. “Ter um pé na cozinha” Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil “Moreno(a)” Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”. “Negro(a) de traços finos” A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum. “Cabelo ruim” Fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros. “Não sou tuas negas” A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo. “Denegrir” Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”. “A coisa tá preta” A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa. “Serviço de preto” Mais uma vez a palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma tarefa mal feita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro. “Mercado negro”, “magia negra”, “lista negra” e “ovelha negra” Expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal. “Inveja branca” A ideia do branco como algo positivo é impregnada na expressão que reforça, ao mesmo tempo, a associação entre preto e comportamentos negativos.
0 Comentários
Ao longo da série “Especial Consciência Negra” ouvimos relatos que dão a dimensão do que os negros enfrentam no dia a dia. Não deve ser fácil ficar do lado de fora esperando que alguém abra a porta, mas ninguém se sentir seguro pra isso por causa da sua cor. Tão difícil quanto isso deve ser ouvir de colegas de profissão (talvez a mais nobre delas: professor) que você deveria ser colocado em um tronco. Ou, ainda, ser rejeitado em um ambiente com todas as letras: “vocês são de cor”. Ora, mas é claro. Todos temos alguma cor, e não é ela quem deve pautar onde podemos ir ou o que podemos fazer. Depois de conhecer as histórias do Jeferson, do Anderson e da Delma é possível refletir um pouco mais: será que nós, todos nós, também não reforçamos comportamentos racistas no cotidiano? Não se trata somente de atravessar a rua quando vem um negro no sentido oposto. Segurar a bolsa, guardar o celular. Não é apenas quando você ofende um negro, ou maltrata uma pessoa em função da cor. O Especial Consciência Negra deu voz a quem geralmente só tem o direito de ouvir – e ouve o que ninguém gostaria. Se você acompanhou até aqui, parabéns. Prestar atenção no que os oprimidos têm a dizer é o primeiro passo, mas saiba que ainda há muito a caminhar. Vamos em frente! Especial Consciência Negra: "Minha vontade era sair correndo, largar tudo, mas eu não podia"23/11/2017 ![]() O terceiro episódio do nosso especial da Consciência Negra está no ar! A Delma Gonçalves é mais uma negra que luta pelos seus objetivos. Dessa vez, ela contou uma história que viveu trabalhando dentro de uma escola onde não era bem-vinda por causa da sua cor. Mais um episódio do nosso Especial da Consciência Negra chegando! ::: 1º material: 'Tire o seu racismo da minha frente que eu quero passar' ::: 2º material: "Você ser negro ou não ser negro não é questão de escolha" ::: 3º material: "Quando a pessoa te olha pela primeira vez, dá para perceber a impressão pejorativa que ela tem sobre você." Como é viver em um local onde você é discriminado diariamente? Ouça o depoimento da Delma e compartilhe conosco as suas histórias. Este é o quarto material do especial Consciência Negra. Durante esta semana, novos conteúdos serão publicados. O uso por veículos de comunicação é livre, desde que o crédito seja respeitado.
![]() Mais um episódio do nosso Especial da Consciência Negra chegando! ::: 1º material: 'Tire o seu racismo da minha frente que eu quero passar' ::: 2º material: "Você ser negro ou não ser negro não é questão de escolha" O Anderson Correa é um grande parceiro nosso. É comerciário, mas também canta e sempre que precisamos de algo, está lá nos dando uma força. Ele conta que quando a conversa está apenas no telefone ou no e-mail rola tudo certinho, mas pessoalmente tudo muda. Não é fácil precisar se acostumar com isso, né? A Padrinho quer ajudar a acabar com esse preconceito. Estamos nessa luta juntos!
Este é o terceiro material do especial Consciência Negra. Durante esta semana, novos conteúdos serão publicados. O uso por veículos de comunicação é livre, desde que o crédito seja respeitado. ![]() Hoje é o segundo dia do nosso especial Consciência Negra. ::: 1º material: 'Tire o seu racismo da minha frente que eu quero passar' O Jeferson Fidelix faz parte do grupo Terminal 470, de Porto Alegre, e é mais um negro que está cansado de viver em um mundo cheio de preconceito, onde sofre simplesmente pela cor da sua pele. Dá o play e escuta o que ele contou para a gente: são algumas histórias e situações em que ele já passou e que, muitas vezes, parece algo distante da realidade de alguns. Se você já se sentiu na pele do Jeferson, conte para nós nos comentários. A gente quer muito saber.
Este é o segundo material do especial Consciência Negra. Durante esta semana, novos conteúdos serão publicados. O uso por veículos de comunicação é livre, desde que o crédito seja respeitado. Por Thiago Silva – jornalista, negro, cansado de preconceito, e Renata Crawshaw, da Redação Padrinho São 19h e você está atrasado para jantar com a sua família. Cinco minutos depois, é preciso sair correndo de casa em direção à parada do ônibus. Três minutos mais tarde, a polícia manda você parar na esquina, te encosta na parede, quer ver os teus documentos. A polícia te revista, procurando qualquer coisa que possa te incriminar. Como não consegue encontrar nada, te trata mal, te dá socos e grita a todo momento. Uma hora se passa, nada é encontrado, você é liberado e precisa voltar para sua vida normal. ::: Confira abaixo a matéria em áudio (uso livre) Isso não aconteceu uma ou duas vezes, foram várias. O grande problema da vida é ter de conviver com isso. Ter a obrigação de viver com o medo. O medo não é de ser assaltado, mas sim de ser confundido com um assaltante. No Brasil onde a cada 100 pessoas que sofrem homicídio, 71 são negras. No Brasil onde o cidadão negro possui chances 23,5% maiores de ser assassinado, em relação a cidadãos de outras raças/cores. Não é fácil viver dessa forma. Será que quando comparamos esses dados, somos realmente todos iguais? Segundo o Atlas da Violência 2017, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), entre 2005 e 2015 a taxa de homicídios contra negros aumentou 18,2%, chegando a 37,7 para cada 100 mil habitantes. Este número supera a média nacional considerando todas as raças/etnias (32,4 homicídios/100 mil), ultrapassa a África do Sul (35,7/100 mil) e se aproxima da Colômbia (43,9/100 mil). A maior variação foi verificada no Rio Grande do Norte, onde as chances de um negro ser assassinado mais do que triplicaram: aumento de 331,8%. Enquanto isso, entre os brasileiros não-negros o índice teve queda de 12,2% e ficou em 15,3 homicídios a cada 100 mil habitantes – em 2005 eram 17,4. “O medo não é de ser assaltado, mas de ser confundido com um assaltante” Esses são apenas alguns dados que deixam claro e ressaltam ainda mais a desigualdade em nosso país. Qual é a cor do bandido? Ou melhor: bandido tem cor? O Brasil é o paraíso das três raças, não é? Quero ver achar isso se você é negro. Os negros são minoria no Brasil. “Mas que minoria é essa, se os negros são 54% da população?”. Respondo: de acordo com o Ipea, a renda da população negra só será igual à da branca em 32 anos. Atualmente, negros ganham, em média, 53% da renda do branco. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2015, com base em dados consolidados ao longo do ano anterior, negros representam 76% das pessoas entre os 10% com os menores rendimentos e 17,4% no grupo de 1% dos brasileiros com maior renda. O relatório evidencia a grande diferença em relação aos que se declaram brancos, que representam quase 80% entre os mais ricos. Não perca as contas: os negros são menos de um quinto do grupo mais abastado, mas continuam sendo mais da metade da população brasileira. Sejamos todos a mudança Ao longo dos últimos anos as denúncias de racismo dispararam em todo o Brasil. A Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial registrou, em todo o país, 626 denúncias em 2015, ante 567 no ano anterior e 425 dois anos antes. A cor da sua pele, seja ela qual for, não muda a sua qualidade, nem faz de você melhor ou pior. Seja preto, branco, amarelo, é preciso olhar no espelho e ter orgulho. Num mundo onde falta respeito, você pode ser de classe alta ou baixa, tanto faz. O fato é que o preconceito nunca vai acabar totalmente. A questão é: como evitar que a cor da sua pele continue sendo um problema? Esse problema pode ser algo de proporções enormes como o caso mais recente do jornalista William Waack, que disse que a buzina e o barulho que o atrapalhavam vindos da rua eram “coisa de preto”. Ou, então, pode ser algo de menor escala, mas que dói fortemente em quem sofre, como as pessoas que atravessam a rua para “não correr o risco de ser assaltada”. Ou quando a pessoa fecha o portão na sua cara, porque acha que você não tem direito de viver em um condomínio cujos moradores têm razoável poder aquisitivo. O preconceito vêm do branco, do negro, do heterossexual, do homossexual, do rico, do pobre. E isso precisa acabar. A sua vida pode ser difícil, muito difícil, mas você pode ser melhor. E não importa a cor da sua pele. Mas para isso acontecer, não espere alguém lhe dizer não, diga a ela, sim. Seja você a mudança! Este é o primeiro material do especial Consciência Negra. Durante esta semana, novos conteúdos serão publicados. O uso por veículos de comunicação é livre, desde que mantenha o crédito.
|
PAD - Produção Autoral do DindosO material deste blog é produzido pela equipe da Padrinho Agência de Conteúdo e colaboradores. Ele é de uso livre, desde que, obrigatoriamente, seja dado o correto crédito, com link. Histórico
Novembro 2022
Categorias
Tudo
|