por Danielly Oliveira, estagiária preta de comunicação
A comunicação é branca. É o que mostram os dados do relatório Perfil Racial da Imprensa Brasileira, divulgados em novembro de 2021, revelando que 77,1% dos jornalistas são brancos. Segundo a pesquisa, no Brasil, 98% dos profissionais que se declaram pretos ou pardos afirmam que pessoas pretas enfrentam mais barreiras para consolidar suas carreiras do que os brancos. Dizer que o mercado da comunicação é branco não é uma afirmação ousada diante destes dados. A pergunta que paira no ar é “onde estão os profissionais pretos da comunicação?”. A pesquisa identificou que, ao contrário dos jornalistas brancos, os profissionais de imprensa pretos são maioria em cargos operacionais, sendo 60,2% como repórteres, redatores e produtores. Minoria nos veículos de imprensa, jornalistas pretos que ocupam a posição de gerentes são ainda mais raros. Ou seja, existem comunicadores pretos, eles só não têm o mesmo protagonismo que os brancos. Infelizmente, o racismo é um ferida presente na sociedade e que, evidentemente, se espalha para o setor da comunicação. O Jornal Nacional, por exemplo, demorou mais de 20 anos para colocar Heraldo Pereira, um homem preto, como âncora do maior noticiário do país – e quase 50 anos para ter uma jornalista preta, Maju Coutinho. Em pleno 2022, no entanto, a sensação é que estamos retrocedendo. No dia 28 de agosto, ocorreu o primeiro debate entre os candidatos à presidência. Organizado pela TV Cultura, Grupo Bandeirantes, UOL e Folha de S. Paulo, a programação não teve a presença de nenhuma pessoa preta na composição de quem perguntava e de quem respondia. Profissionais da comunicação pretos cobram por protagonismo porque esses espaços lhe são retirados diariamente. Encontrar comunicadores – jornalistas, redatores, conteudistas, social medias, apresentadores, designers e outros – pretos dentro de agências, redações e empresas de comunicação é uma tarefa árdua, mas que precisa ser levada a sério pelas instituições, independentemente dos seus tamanhos. Escrevemos isso sabendo da importância de lutar por essa causa. Porém, não podemos fechar os olhos para a falta de profissionais pretos ao nosso redor. Na Padrinho Conteúdo e Assessoria, onde trabalham 11 profissionais, a situação de desigualdade do mercado se reproduz: apenas uma se identifica como preta. Ou seja, temos muito que percorrer ainda e nos comprometemos em sermos cada vez mais eficazes na luta antirracista. A comunicação pode até – ainda – ser branca, mas isso não a impede de promover a diminuição da desigualdade racial. Ofertar espaços para profissionais pretos, treinar comunicadores para não reproduzirem termos racistas em suas falas, textos e artes e promover um ambiente de trabalho igualitário são os primeiros passos que precisamos dar em direção a um mercado da comunicação mais inclusiva e justa.
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Novembro 2022
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