Há alguns dias, a equipe da Padrinho teve a oportunidade de conhecer o Ewerton Sousa, um maranhense que atravessou o Brasil para ver o Grêmio na final da Libertadores. Como se não bastasse, ele resolveu ir até a Argentina (já estava perto mesmo, né?) e, claro, contou tudo pro nosso blog: Rumo a Lanús! Minha viagem à capital portenha começa na segunda-feira, 27 de novembro, às 3h da madrugada. Dentro do carro, dois irmãos (Marcos e Bruno) compartilhavam o sonho de conquistar a América com uma dupla completamente desconhecida – deles e entre si. Um era eu, o outro era Joel, um oficial de justiça que também largara a labuta por alguns dias em busca desse sonho. Dias antes, Bruno havia convencido sua namorada da importância deste jogo ao pedir o carro emprestado para a viagem. E lá fomos nós, pela madrugada, com destino à cidade de Jaguarão, divisa com o Uruguai. Já ao amanhecer passamos a fronteira e veio minha primeira preocupação: a carteira de identidade foi emitida há mais de 10 anos (15, a bem da verdade) e, geralmente, postos de imigração não aceitam os documentos que ultrapassam esse limite. Embalado pela emoção, não "passa pela cabeça" que serei barrado pelo simples fato de o RG estar: aberto, foto escaneada e mal conservado pelo tempo.. Chegando na barreira uruguaia os outros passageiros apresentaram passaportes, documentos do veículo e licença para dirigi-lo em todos os países do Mercosul. Ato seguinte: ficam atentos na minha apresentação, boquiabertos com a despreocupação e, mais além, com o fato de a policial sequer questionar o documento. Saímos rindo bastante, entre alívio e euforia. O episódio me rendeu o apelido de “amuleto da sorte” do grupo. Ao chegarmos em Montevidéu, por volta das 11 horas da manhã do dia 28 de novembro, nos direcionamos a um hotel. Após nos acomodarmos, fomos conhecer a cidade (na verdade eu fui conhecer, pois os demais já tinham ido antes). Em nosso hotel havia vários estrangeiros, entre os quais o assunto foi sempre futebol – e principalmente a final da Libertadores. Saímos de Montevidéu às 3 horas da madrugada do dia 29, data da partida, com destino a Buenos Aires. Chegando na Argentina, onde todos pensavam ser mais complicado passar na alfândega, demos de cara com um alfandegário torcedor do River e que torcia contra o Lanús, por conta das polêmicas que restaram quando seu time foi eliminado pelos agora finalistas. Com esta ocasional torcida em conjunto ficou fácil entrar no país que horas mais tarde seria conquistado pelo tricolor. Ao chegar em nosso destino começamos a encontrar uma multidão azul, que invadia as ruas portenhas com gritos envolventes de “dá-lhe tricolor”. Foi o suficiente para esquecermos o cansaço da viagem e nos trajarmos com o manto do imortal. Saímos para o almoço e depois fomos diretamente ao Puerto Madero, local de encontro dos gremistas para serem escoltados até o estádio do Lanús, que fica na região metropolitana da capital argentina. Na ida a pé ao Puerto Madero, compramos algumas garrafas de cerveja. Sempre que passávamos por “la policia” o Marcos me entregava a garrafa e, desentendido, apenas bebia. Mas o motivo era outro: depois me contaram que se alguém precisava correr o risco de ser preso, esse alguém deveria ser eu, pois já havia entrado em dois países e a polícia nunca barrou ou falou nada quanto aos documentos, então com certeza passaria tranquilo com a bebida em punho. No local de encontro os laços de amizade estenderam-se com torcedores de estados como Rondônia, Amapá, Rio de Janeiro (inclusive o novo amigo carioca disse que as portas de sua casa estão abertas a uma eventual ida minha para acompanhar o tricolor no estado). Era uma euforia contagiante, chegávamos a pensar que estávamos em Porto Alegre, tamanha vibração com os cânticos. Na ida ao estádio fomos recebidos com algumas pedradas, que depredaram ônibus da comitiva. A van em que estávamos foi atingida uma vez. Fora isso, xingamentos tentavam intimidar a presença dos gremistas nos arredores do estádio La Fortaleza. “A voz do mar azul ecoa sobre o vinho tinto de mais de 40 mil locais” Feito o desembarque, os torcedores tomaram conta da rua de acesso ao setor visitante. No meio da multidão aparece o ex-jogador Caio Ribeiro, hoje comentarista dos canais Globo e SporTV, e a festa se propaga com a recepção a um ídolo do passado. Ao entrar no estádio, a torcida gremista assume rapidamente o protagonismo com cânticos tão envolventes que provocam a atenção dos “hinchas” argentinos. A voz do mar azul ecoa sobre o vinho tinto de mais de 40 mil locais. No decorrer do jogo tenho a satisfação de conversar, debater sobre a partida com Marcelo Lipatin, que jogou no Grêmio durante alguns dos mais amargos e sombrios anos do clube desde que fui atraído pelo delírio que é torcer por estas três cores. As memórias do período, principalmente para quem acompanha à distância, ficaram escassas… Por isso, fui saber quem era ele quase no final do jogo, quando um torcedor o reconheceu e me alertou. Pedi desculpas por não tê-lo reconhecido antes e pedi uma foto. Meus olhos cansados viam, poucos metros adiante, Fernandinho e Luan catapultarem o Grêmio ao topo da América, em dois contra-ataques fulminantes. Olho para os cinco mil gremistas que estão ao meu redor e lembro da carreata que fiz, sozinho, pelas ruas de Campestre do Maranhão um ano antes. Tudo valeu a pena. Enfrentar as dificuldades impostas no árduo trajeto é reconhecer a importância de se dedicar por algo que você acredita. Esse ato de superação pode influenciar cada pessoa que fica sabendo da minha história. Todos têm a mesma capacidade, basta lutar e ir a fundo no que você realmente acredita. Antes de sair de casa eu acreditava que só a vitória importava. No entanto, o título conquistado pelo Grêmio tornou-se a “cereja do bolo”, já que minha maior recompensa não foi ter chegado até o meu clube do coração e assistido a uma simples partida de futebol, mas entendido que pertenço a uma nação solidária e hospitaleira, que me recebeu e deu lições que levarei para a vida toda. “Não sei o que seria de mim sem o esporte, pois não aprendi outra profissão e não conseguiria trabalhar em mais nada com tanto amor e dedicação” Muito obrigado a vocês da Padrinho Agência de Conteúdo: Renata, Tiago, Pedro, Alexandra. Obrigado por contarem ao mundo o que sinto em meu coração. Não sei o que seria de mim sem o esporte, pois não aprendi outra profissão e não conseguiria trabalhar em mais nada com tanto amor e dedicação. Ficam os sinceros agradecimentos de uma pessoa íntegra, que só quis assistir a uma partida de futebol e acabou sentindo a solidariedade de uma nação. --- Semana passada a gente contou a história do Ewerton no UOL. Clique aqui para entender como ele virou gremista mesmo morando no interior do Maranhão, a história maluca que nos levou até ele, a carreata de um homem só em Campestre do Maranhão... E também pra saber um pouco mais dessa viagem!
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Novembro 2022
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