O rock vive, e é para sempre![]() Por Renata Crawshaw, jornalista, baterista, produtora e do rock, dona do Lounge, projeto de shows intimistas. Não necessariamente nesta ordem. Lembro até hoje do primeiro grande show de rock que eu fui: Red Hot Chili Peppers em Porto Alegre. Foi o dinheiro mais bem gasto na minha época de colégio. Depois disso, eu estava anestesiada, saí de lá, com uma sensação de quero-muito-mais. E foi ali que eu descobri o que eu realmente gostava, que era isso que eu queria fazer. Naquele mesmo ano, comecei a fazer aula de bateria. Meu único (e humilde) objetivo era conseguir tocar “In Bloom”, do Nirvana. Em cinco meses de aula, já estava dentro do estúdio com algumas amigas para tentar tocar Ramones. Dali nasceu a primeira banda em que toquei: Blasé. Éramos quatro meninas sedentas por toda aquela balaca que só o rock and roll pode dar. Uma das minhas melhores experiências em cima do palco foi abrir para The Donnas, outra banda só de mulheres, mas bem mais conhecida e vinda direto dos Estados Unidos. Abrimos o show das nossas ídolas em casa. Foi lindo de ver! E eu mal sabia o que mais estava por vir. Um tempo depois, fui morar em Londres para estudar inglês. E onde fui parar? Em cima dos palcos dos melhores pubs britânicos com The Franklys, uma banda só de meninas: eu, duas suecas e uma inglesa. Foi a experiência mais perto de ser uma rockstar que eu tive. Pena que, depois de três anos, um tal de visto de estudante me sacudiu e me acordou com o dedo no nariz. Estava na hora de dar tchau e voltar. Sempre brinco que essa é a “triste história da minha vida”. Mas ela não é triste. Foram os melhores anos da minha vida até agora. E não só pela vivência de estar em uma banda de rock estrangeira. Me agarrei com unhas e dentes a todas as oportunidades que tive. Parecia que eu sabia que eu nunca mais teria aquilo de volta. Logo que pisei em solo inglês, comprei ingresso para ver a minha banda favorita do meu ídolo favorito de todos os tempos: Foo Fighters. Antes que chegasse o grande dia, eu me deparei com outro grande show caindo de maduro bem na minha frente: Paul McCartney e convidados no estádio de Liverpool. Wow! Como assim? Era possível eu visitar esta cidade cheia de história e ainda ver um Beatle ao vivo? Para quem saiu do Alegrete, isso era humanamente impossível de acontecer. Mas aconteceu! E foi a melhor indiada que eu já fiz em toda a minha vida: eu + quatro amigos passamos a noite dentro de um ônibus que, se eu dissesse que era desconfortável, estaria sendo até gentil. Durante o show, Macca anuncia seu convidado especial da noite. Ele, o próprio, em carne e osso: ladies and gentlemen, Mr. Dave Grohl! A minha reação no vídeo abaixo fala por si. Ver dois ídolos em um mesmo palco assim, logo na chegada da Terra da Rainha, me deixou em alfa. Quando eu vi Foo Fighters no Wembley Stadium (sim, aquele show do DVD!) tocando com Jimmy Page e John Paul Jones, comecei a entender. Meu único objetivo em terras estrangeiras era ver o maior número de shows possível para contar história depois. Eu lembro de ver bandas que jamais imaginaria chegar perto. Para citar algumas: Blondie, New York Dolls, Stone Temple Pilots, Them Crooked Vultures e mais um show secreto do Foo Fighters para menos de 500 pessoas – e foi nele que eu consegui uma pele de bateria autografada pela banda! Dá play no vídeo! Outra coisa que eu achava fascinante era a facilidade com que as coisas aconteciam lá fora. Um dia passei na frente de uma casa de shows e vi um cartaz meio tímido na porta anunciando Taylor Hawkins and The Coattail Riders. Pensei que não poderiam existir dois Taylor Hawkins no mundo da música e fui em busca do meu ingresso. Acreditem, na época foi mais barato que comprar meia dúzia de ovos, queijo, café, leite e pão aqui no Brasil.
Chegado o dia do show, fui sozinha com a minha câmera (ninguém me acompanhava mais, de tanto tempo que eu investia nisso). Era ele mesmo, cantando e tocando bateria, acompanhado de um guitarrista e um baixista. Como nunca é o suficiente para você estar feliz com o que está diante dos seus olhos, eis que o rapaz anuncia dois convidados básicos no palco: Brian May e Roger Taylor (sim, os mestres do Queen!). Eu não sei se dava pra notar, mas o meu queixo estava no chão com aquilo tudo. Era tão fácil, tão simples, tudo tão musicalmente funcionando. E eu ali, vendo e tentando registrar com os olhos e as fotos. Foram muitas experiências, muitos shows, muita panturrilha dolorida e muita sensação de estar sendo esmagada. Tudo isso graças ao nosso bom e velho rock and roll. E eu não trocaria isso por nada, absolutamente nada. E é daí que vem a minha resposta para a pergunta: “o rock está adormecido ou não?”. Jamais! Não é porque o mundo tá cheio de Ariana Grande, Anita, Despacitos e Justin Bieber que o rock tenha sumido. Cada um tem o seu espaço, e ele virou aquele rapaz meio de canto, quietão, que fica fumando um cigarro e balançando a cabeça conforme o ritmo da música. Sai sem avisar ninguém, mas sempre volta. Se você prestar bem atenção, ele tá ali, nas garagens clássicas, estourando amplificadores no estúdio ou tocando em bares semi-vazios que servem cerveja em copo de plástico. Quem gosta e quem sente tudo isso que eu descrevi, sabe bem onde encontrá-lo. Vive le rock!
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Novembro 2022
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