![]() Uma parceria entre a Padrinho e o Filto Fact-checking coloca no ar, a partir de hoje, uma série de materiais em áudio sobre Fake News. O conteúdo produzido será distribuído, gratuitamente, para as rádios do Rio Grande do Sul. A ideia do especial surgiu de um papo sobre Fake News entre o time da Padrinho e a jornalista, Doutoranda em Comunicação e Co-fundadora do Filtro Fact-checking, Taís Seibt. Percebeu-se, rapidamente, que estamos olhando muito para o assunto a partir do que nós, jornalistas e comunicadores, temos de conhecimento sobre notícias. Rapidamente surgiram exemplos de como as nossas próprias famílias têm dificuldade em entender - e não repassar, especialmente nos famigerados grupos de zapzap (whatsapp) - notícias falsas. - Precisamos explicar para a 'dona Maria' o que é fake news antes de exigirmos que as pessoas não passem conteúdo fraudulento adiante - argumentou Alexandra Zanela, da Padrinho. - É o que eu sempre digo! A minha mãe se chama Maria e uso esse exemplo sempre que falo sobre isso - complementou Taís, que comanda o Filtro e tem promovido encontros sobre checagem com jornalistas. O primeiro foi aqui na Padrinho e o próximo rola no dia 31 de julho, na Ari. ::: Acompanhe a série sobre Fake News ::: Inscreva-se para a próxima checagem. Confira o primeiro episódio do especial sobre Fake News: um guia para não cair nessa. ![]()
Para a minha mãe (e a sua também) entender o que é fake news
Em mais de uma década de reportagem, já ouvi muito editor dizer que é preciso escrever sobre como tal assunto impacta na vida da “Dona Maria”. O que nem todos eles sabiam é que, no meu caso, Dona Maria é ninguém menos do que minha mãe. E minha mãe anda com as orelhas quentes ultimamente de tanto que eu a tenho usado como exemplo em entrevistas, aulas e palestras. É porque minha mãe, Dona Maria, é o exemplar mais próximo de mim do que eu chamo de “usuário padrão” de internet no Brasil. Dona Maria é uma senhora de 60 e poucos anos, que concluiu o ensino básico numa cidadezinha do interior, cresceu na roça e teve que aprender a se virar na cidade. Até 20 e poucos anos atrás, Dona Maria não tinha nem telefone fixo em casa - usava o da vizinha. Ela nunca manuseou um computador e, para selecionar uma faixa no DVD, ela pede ajuda ao neto de quatro anos. Mas Dona Maria tem Whatsapp e está no Facebook. Dona Maria conectou-se às redes sociais graças aos planos pré-pagos de telefonia celular, como a maioria dos brasileiros com acesso à internet. Entreguei o smartphone a ela com os perfis criados e dei um workshop básico de como a coisa funcionava. O resto ela foi descobrindo. E aí é que está o ponto. A gente reclama daquele parente que compartilha de piadas de mau gosto a fake news no grupo da família, mas alguém já parou para explicar pro tio que existe internet fora do Whatsapp? Exemplo. Outro dia minha mãe me mostrou uma mensagem no Whatsapp com um textinho azul. Era um link, obviamente. Mas Dona Maria não sabia o que era um link e não tinha ideia do que aconteceria se ela clicasse no texto azul. Ela também não sabe entrar no Google e pesquisar um assunto. Dona Maria só aprendeu a acessar as mensagens do WhatsApp e percorrer a timeline do Facebook. Para ela, a internet é isso. Toda essa conversa de buscar fontes confiáveis não faz sentido para Dona Maria. No caso da minha mãe, a fonte confiável, muitas vezes, sou eu mesma. Pelo menos ela já aprendeu a desconfiar, mas o fato de perguntar para a filha jornalista se uma informação é verdadeira só mostra como é complicado para ela tirar as rodinhas da bicicleta e pedalar com segurança pelas ciclovias da informação digital. Só que fake news impactam, e muito, na vida da Dona Maria. Quantas donas Marias saíram desesperadas para o super uns dias atrás por causa de boatos sobre uma nova greve de caminhoneiros? A gente precisa achar um jeito – e um tempo – de explicar pra ela que não dá pra acreditar em tudo que dizem no zapzap. É isso que vou tentar fazer por aqui. Vou organizar umas ideias para ajudar minha mãe (e a sua também) a entender o que é fake news. E eu tenho convicção de que essas informações podem ajudar muitas Donas Marias por aí, porque a falta de compreensão sobre a vida digital não é exclusividade da geração dela, nem de uma classe social específica ou de um determinado nível de instrução formal. O letramento midiático é um debate necessário em todos os nossos grupos sociais. Até uma desembargadora foi traída por fake news no caso dos ataques à imagem da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio em março. Tem eleições vindo aí, e não vai faltar gente tentando confundir a nossa cabeça com informação falsa ou distorcida. Mas também não dá para entrar numas de que tudo é fake news e não se pode mais acreditar em nada hoje em dia. A verdade ainda importa. Só que ela não está na superfície. Precisamos ir mais fundo e ser mais cautelosos. Sem essa de “só” compartilhei. Na dúvida, não compartilha. E te liga nos próximos posts.
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Novembro 2022
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