![]() Por Pedro Pereira - Redação Padrinho Mal que atormenta a sociedade de forma silenciosa, o suicídio está presente em nosso cotidiano e precisamos, sim, falar sobre ele. Especialistas argumentam que o tabu que gira em torno do tema é uma das causas do elevado número de ocorrências em todo o mundo. Também contribuem a falta de conhecimento e atenção sobre o assunto pelos profissionais de saúde e a ideia de que o comportamento suicida não é um evento frequente. É preciso deixar claro que o suicídio tem efeito contagioso quando noticiado de forma errada, mas não falar sobre ele é igualmente prejudicial porque interfere diretamente na prevenção. Não se combate um inimigo sem o conhecer detalhadamente – caso contrário, a guerra estará perdida. É fundamental quebrar estas e outras barreiras para combater o problema, por isso foi instituído o Setembro Amarelo, campanha trazida para o Brasil em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Durante este mês, prédios públicos e privados têm luzes amarelas voltadas para si, e as pessoas são incentivadas a usarem roupas, acessórios ou um laço desta cor – a exemplo do outubro rosa, que alerta para o combate ao câncer de mama, e o novembro azul, contra o câncer de próstata. Eventos e atividades em todo o país informam a população sobre as melhores práticas e cuidados para evitar o suicídio. A cada ano, cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio – uma a cada quarenta segundos. No Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira a própria vida: são 32 mortes por dia. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a média brasileira em 2015 foi de 6,3 suicídios para cada 100 mil habitantes. Entre as mulheres a média foi de 2,9 para cada 100 mil, enquanto os homens levam a média para cima, com 9,8 a cada 100 mil. Curiosamente, o número de tentativas de suicídio é inversamente proporcional: ocorre três vezes mais entre as mulheres. Isso porque os meios aplicados pelos homens são mais, digamos, assertivos (como armas de fogo e enforcamento). Prevenção Aproveitando o período de reflexão sobre o assunto, cabe a pergunta: como, afinal, poupar a sociedade de ato tão nefasto? Segundo a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS), os profissionais da saúde devem reconhecer os fatores de risco (especialmente uma tentativa anterior e doenças mentais) e os fatores protetores para determinar clinicamente a gravidade do caso. Este princípio é fundamental para definir como será feito o acompanhamento do paciente de forma a reduzir o risco - já que não é possível identificar com 100% de precisão quem irá se suicidar. Tentativa de suicídio – fator mais importante, com cinco a seis vezes mais chances de ocorrência. A ABEPS estima que 50% dos que cometem suicídio já haviam tentado anteriormente. Doença mental – quase todos os suicidas apresentam algum distúrbio, muitas vezes não diagnosticado ou não tratado de forma adequada. Os mais comuns são depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e abuso ou dependência de álcool e outras drogas. Já os fatores protetores são menos estudados, por isso não trazem dados tão consistentes, mas geralmente envolvem autoestima elevada, bom suporte familiar, laços sociais bem estabelecidos (família e amigos), religiosidade (independente da crença), estar empregado, ter crianças em casa, gravidez desejada e planejada, capacidade de adaptação positiva, acesso a serviços e cuidados de saúde mental, entre outros. Fique sabendo A ABEPS explica que vários mitos popularmente difundidos prejudicam a prevenção. Confira alguns deles: ::: Mito: o suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio. ::: Verdade: os suicidas estão passando quase invariavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade e interfere em seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante da prevenção do suicídio. ::: Mito: é proibido que a mídia aborde o tema suicídio. ::: Verdade: a mídia tem obrigação social de tratar desse importante assunto de saúde pública e abordar esse tema de forma adequada. Isto não aumenta o risco de uma pessoa se matar; ao contrário, é fundamental dar informações à população sobre o problema, onde buscar ajuda, etc. ::: Mito: não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco. ::: Verdade: falar sobre suicídio não aumenta o risco. Muito pelo contrário, falar com alguém sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem. ::: Mito: as pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção. ::: Verdade: a maioria dos suicidas fala ou dá sinais sobre suas ideias de morte. Boa parte dos suicidas expressou, em dias ou semanas anteriores, frequentemente aos profissionais de saúde, seu desejo de se matar. Posvenção Passado o evento traumático para todos, resta o chamado “luto do suicídio”, período em que as pessoas próximas a quem cometeu o ato precisam assimilar o acontecido. Nos Estados Unidos, estas pessoas são chamadas “sobreviventes de suicídio”: são familiares, amigos ou colegas de quem atentou contra a própria vida. Estima-se que, em média, 60 pessoas sejam afetadas pela dor da perda de alguém por suicídio. Já que a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que 800 mil pessoas morram desta forma a cada ano, conclui-se que 48 milhões de pessoas “sobrevivam a um suicídio” anualmente. Nestes casos cabe um acompanhamento mais próximo. A ABEPS afirma que grupos de apoio ao luto, conduzidos por pessoas capacitadas, podem ser benéficos. Alguns objetivos da posvenção
Onde buscar apoio Felizmente o Brasil é pródigo em ajuda ao próximo. Entre as iniciativas de combate ao suicídio a atuação mais destacada provavelmente seja a do CVV, entidade sem fins lucrativos que oferece atendimento gratuito e sigiloso há 55 anos. Acessando o site da entidade é possível encontrar apoio dos voluntários via chat, skype ou e-mail, além dos números de telefone e o endereço dos 72 postos de atendimento presencial. O CVV conseguiu, inclusive, criar uma linha de fácil acesso: quem precisar de ajuda pode discar o número 141, de qualquer lugar do Brasil, ou 188, se estiver no Rio Grande do Sul. Este último tem ligação gratuita, e a partir de 30 de setembro estará disponível também em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Piauí, Roraima, Acre, Amapá, Rondônia e Rio de Janeiro. A meta é estender a linha gratuita a todo o país até 2020, segundo convênio firmado com o Ministério da Saúde, mas os primeiros escolhidos não têm muito o que comemorar e sim bastante trabalho pela frente, já que o critério adotado foi começar pelos índices mais altos do país. Todo ano os mais de dois mil voluntários realizam mais de um milhão de atendimentos em 18 estados e no Distrito Federal. Nem todos os chamados são de potenciais suicidas, mas retratam cenários que podem levar a doenças e comportamentos que desencadeiam o processo. São pessoas prestes a atentar contra a própria vida, outras que estão se sentindo sozinhas, carentes ou preocupadas com algo que preferem não compartilhar com quem lhes é próximo. Os atendimentos são sigilosos e não há qualquer troca de contatos pessoais, como telefone ou redes sociais. Os voluntários dedicam até quatro horas semanais à atividade, mas antes passam por uma capacitação que os habilita a desempenhar a função. Links úteis: Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio Centro de Valorização da Vida Setembro Amarelo Suicídio: informando para prevenir (PDF)
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Novembro 2022
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